Gestão da APA de Guapimirim em Risco

Suposta exoneração do atual gestor da APA de Guapimirim aumenta a tensão entre a unidade de conservação e o COMPERJ
   
     A BV EM DIA apresenta nesta edição especial, um caso que vêm chamando a atenção de ambientalistas e de acadêmicos nas últimas semanas: a suposta exoneração de Breno Herrera, atual gestor da APA de Guapimirim, que atua na área há sete anos. Breno é contra as iniciativas do projeto do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ), que prevê a passagem de embarcações para transporte de equipamentos pesados pelo leito de rios que fazem parte da APA.
          A APA de Guapimirim localizada entre os municípios de Magé, São Gonçalo, Itaboraí e Guapimirim, abrange uma área de 14 mil hectares, e foi criada em 1984 através de movimentos ambientalistas e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), tendo como objetivo principal a proteção dos remanescentes de manguezais da Baía de Guanabara. Abrigando o último bosque de manguezais da Baixada Fluminense, a Unidade de Conservação é de extrema importância para a preservação e manutenção da Baía de Guanabara e de seus municípios vizinhos.

 
Vista aérea da APA de Guapimirim 

     Atualmente a Unidade de Conservação em questão sofre com diversas ameaças que dificultam o seu pleno funcionamento, dentre elas podemos destacar a expansão urbana, a poluição, o assoreamento de alguns rios, a pesca predatória e a caça ilegal. Além disso, a APA vem sofrendo com a expansão industrial do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ) que destaca-se como um dos maiores investimentos petrolíferos do mundo e o maior empreendimento da história da Petrobrás. O COMPERJ planeja transportar materiais químicos pesados pelo rio Guaxindiba, um dos rios mais importantes da APA.
       A resistência ao projeto foi decisiva para a exoneração de Breno Herrera do cargo de gestor da APA, pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), que foi determinada pela Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Breno, graduado em biologia, mestre em planejamento ambiental e doutorando em planejamento ambiental pela COPPE – UFRJ vem desenvolvendo atividades de grande contribuição para a gestão da APA e preservação do meio ambiente, dentre as quais podemos citar sua colaboração na criação do Mosaico Central Fluminense, que engloba 22 unidades de conservação de alguns municípios do Rio de Janeiro. 
       A exoneração de Breno, apesar de não ter sido oficialmente publicada no Diário Oficial, já está causando uma grande revolta em representantes de movimentos socioambientais e acadêmicos. O pescador Alexandre Anderson, líder da Associação Homens do Mar (AHOMAR), afirmou sua indignação e solidariedade ao ambientalista através da internet, como mostra sua fala a seguir:

Prezados "Amigos e Conselheiros"


Já de ante mão estendemos nossa solidariedade a esses excelentes técnicos e ambientalistas, em especial ao amigo "Breno Herrera". Digo que foi com grande indignação e revolta que nós comunidades e pescadores artesanais da Baía de Guanabara recebem essa notícia; da possibilidade da saída desta direção, na administração da APA Guapimirim; que tanto fez pela preservação e proteção do ecossistema marinho da Baía de Guanabara.

Hoje milhares de famílias são beneficiadas e podem utilizar de forma sustentável e consciente os recursos naturais ainda bem preservados em nossa região, isso graças aos esforços e o trabalho dos administradores e conselheiros da "APA de Guapimirim" e "ESEC Guanabara", através de uma gestão participativa com as comunidades ao redor.

Nós pescadores e lideranças externamos nosso apoio para qualquer ação em prol de se reverter este quadro e desde já articulamos um grande movimento de repúdio a mais essa tentativa de eliminar e afastar as pessoas do "bem", da luta ambiental e social deste país.

Estaremos presentes há convocatória ; e desde já divulgaremos a todos no "Brasil" e no "Exterior", a mais essa lamentável tentativa de nos tirar o direito de ter um "meio ambiente limpo e equilibrado para nossa e as futuras gerações" (Alexandre Anderson, Abril, 2012)


A Equipe da BV em dia, composta por pesquisadores e acadêmicos do Núcleo Interdisciplinar de Estudos do Espaço da Baixada Fluminense – NIESBF, núcleo de pesquisa vinculado à UERJ – Caxias, apóia esta causa mostrando-se contra a exoneração, acreditando que a o desenvolvimento financeiro não pode sobrepor a defesa do meio ambiente, garantida na APA de Guapimirim através de uma gestão participativa que envolve diversos atores sociais.


Simone Fadel
Professora adjunta UERJ-Caxias (Matrícula: 32554-8)Professora Responsável do Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Baixada Fluminense- NIESBF

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