Os conflitos na Baía de Guanabara
A BV
em Dia vem levantar mais uma vez a bandeira em defesa dos povos tradicionais
que vivem na Baía de Guanabara, mais especificamente da região da Baixada Fluminense,
como já havíamos falado outras vezes. A grande luta nesse território se da em
defesa ao direito pela vida, sobrevivência e pelo trabalho digno frente aos
problemas causados por grandes empresas, como a REDUC. Abaixo na figura,
podemos observar como o espaço no entorno da Baía de Guanabara é formado por
essas grandes empresas:
Empresas
situadas no entorno da Baía de Guanabara
Em
outras reportagens, a BV em Dia trabalhou essa temática, entrevistando o
representante da AHOMAR, associação de pescadores de Magé, nos relatando seu
dia a dia, o que vem ocorrendo na área em relação à pesca artesanal, suas
principais revindicações e desafios. Também destacamos uma parte do histórico
de impactos causados pela REDUC, tanto para o Meio Ambiente quanto de forma
direta na vida das pessoas, a divulgação do Fórum dos afetados pela indústria
do petróleo e petroquímica nas cercanias da Baía de Guanabara em parceria com
outras universidades do Estado do Rio de Janeiro, Rede Brasileira de Justiça
Ambiental, SINDIPETRO- Caxias, SEPE – Caxias, entre outros, e essa temática
virou monografia!
A
graduanda de Geografia da Faculdade de Educação da Baixada Flumiense, Jessica
Fernandes, defendeu na última terça-feira (05/08) sua monografia intitulada Baía de Guanabara um Espaço Heterogêneo: A
disputa entre REDUC e os povos tradicionais. O trabalho visou analisar
brevemente as transformações da Baía de Guanabara ao longo dos séculos, os
elementos que atualmente compõem esse espaço e o tornam um território de
disputa, além de buscar identificar e apontar a atuação dos movimentos sociais
frente aos conflitos socioambientais que emergem das relações e inter-relações
dos sujeitos que atuam nesse espaço. A estudante falou à BV em dia dos desafios
e das perspectivas na elaboração de sua pesquisa que representa uma voz frente
às diferentes tensões presentes na área estudada.
Fale um pouco sobre como
surgiu a ideia de abordar esse tema:
“Durante
a maior parte da graduação me mantive ligada ao grupo de pesquisa da unidade da
UERJ na Baixada Fluminense intitulado NIESBF. Primeiramente, atuei como
bolsista voluntária, onde tive a oportunidade de desenvolver um trabalho sobre
os manguezais da região de Magé apresentado no V Seminário Brasileiro sobre
Áreas Protegidas e Inclusão Social (SAPIS) que fora realizado em Manaus no ano
de 2011. A participação neste evento e as pesquisas para este trabalho,
trouxeram novas discussões para o grupo de pesquisa, dentre as quais posso
destacar a questão da redução da pesca na Baía de Guanabara, e a luta que os
pescadores possuem contra a REDUC, que apareceu então como uma das principais
causas de conflitos e agressão ao meio ambiente. Daí o interesse pelo tema foi
crescendo e escolhi abordá-lo na minha monografia.”
Neste caso, a
experiência no grupo de pesquisa lhe permitiu uma maior relação com a AHOMAR e
outros movimentos como o FAPP-BG, citados em seu trabalho? Conte-nos um pouco
sobre seu contato com esses grupos:
“Sim,
a participação no grupo de pesquisa foi fundamental para a realização desse
trabalho. Como o NIEBF possui contato com outros grupos de pesquisa e
organizações sociais que militam na região da Baixada, foi possível através de
parcerias em seminários e palestras a aproximação com a AHOMAR e seus
principais representantes, o que possibilitou construir a versão dos pescadores
sobre as agressões que eles vem vivenciando com a redução de sua área de pesca.
O contato com essa associação também possibilitou ter acesso as principais
questões que esses pescadores reivindicam, além de uma construção da sua
história e relação de pertencimento com a área da Baía.”
O recorte espacial de
seu objeto de estudo se deu, sobretudo, em municípios da região da Baixada
Fluminense tais como Magé e Duque de Caxias. Fale um pouco da importância dessa
escolha visto que você fez sua graduação em uma universidade na Baixada
Fluminense.
“Bom, tanto a unidade da UERJ em que me
formei, como o grupo de pesquisa do qual participei encontram-se na Baixada,
logo a escolha da região como recorte espacial foi sendo construída diante de
todas as experiências que tive ao longo da graduação, seja através do grupo,
dos debates em sala de aula ou dos trabalhos de campo. Embora não seja uma
regra, acredito na importância do desenvolvimento de trabalhos de conclusão de
curso que tenham justamente a região da Baixada como recorte, visto que além de
um papel fundamental para a legitimação do Campus em questão, proporciona uma
tentativa de aproximação da comunidade do entorno com a academia, desenvolvendo
para a população local algo que faça de alguma forma a diferença em suas lutas
cotidianas.”
De que forma o seu
trabalho irá contribuir para um novo pensar acerca das tensões no espaço da
Baía de Guanabara?
“O
trabalho aponta que há nesse espaço diversos conflitos, tendo focado na questão
da redução da área de pesca e consequentemente no embate entre os pescadores e
a REDUC. O objetivo é que de alguma forma, ao apresentar os movimentos que vem
atuando nessa luta como FAAP-BG, se possa pensar uma maneira de reorganiza-lo
de forma que haja uma maior justiça ambiental nessa região. As soluções para os
conflitos e tensões passam por uma grande luta entre os diferentes elementos
presentes na Baía de Guanabara, pois a REDUC é financiada
pelo estado, que se vê pressionado a atender os interesses dos pescadores e ao
mesmo tempo como parte interessada na retirada deles e expansão da REDUC. Não
sei ao certo quando ou como esses conflitos podem acabar, mas não podemos
parar. É preciso lutar e apresentar propostas para a mudança, tanto de dentro,
quanto de fora da academia, que nos levem a construção de um futuro com mais
justiça ambiental para todos.”
Fica
claro aqui, a importância de se ter mais estudos sobre a Baixada Fluminense,
que apesar de ser bem conhecida no mundo dos negócios é desconhecida pelos seus
próprios moradores que sabem pouco de suas histórias e seus méritos.
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