20 de novembro é dia Nacional da Consciência Negra
Um Breve Raio X da Pesquisa sobre Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil realizada pelo IBGE (dados de 2019)
No dia 20 de novembro é
comemorado o dia da consciência negra, dia principalmente de reflexão sobre a
discriminação, diferenças raciais enraizadas na sociedade, com foco sobre a
população negra do país.
O trabalho do IBGE, Estudos e
Pesquisas Informação Demográfica e Socioeconômica, número 41, sobre Desigualdades
Sociais por Cor ou Raça no Brasil, de 2019, traz um panorama relacionado a
temática, vale aqui fazer um raio-x da situação da população preta ou parda em relação
à população branca, visando evidenciar pontos importantes da desigualdade, em
dados, marcada em nossa sociedade.
Ao analisar os aspectos socioeconômicos
entre pessoas de cor ou raça branca e pretas ou pardas, pode-se dizer que as
primeiras representam 43,1% e a segunda 55,8% da população, as quais juntas totalizam
99% da população do país, o restante se auto declara amarela (pessoa origem
japonesa, chinesa, coreana) ou indígenas. Nota-se que a população de cor preta
ou parda representa o maior percentual da população do país, além de serem também
maior força de trabalho, mas ao mesmo tempo se encontram nos maiores
percentuais de desocupados ou subocupados, mesmo nas diferentes categorias de
nível de instrução da população.
Quando comparados brancos com
pretos ou pardos, em 2018, 47,3% desses últimos estavam no mercado informal de
trabalho, demonstrando a precariedade em termos trabalhistas, pois essas
condições revelam a falta de proteção social, sem acesso aos direitos
trabalhistas sendo privados, por exemplo, de aposentadorias.
Logo, afirma-se que do total
de pessoas ocupadas ou em trabalho informal a renda média dos pretos/pardos em
relação aos brancos era menor. Isto é, a população negra/parda recebeu em média
764 reais/mês a menos quando em ocupação informal, sendo mais “gritante” na
ocupação formal, com diferença para menos de 1.200 reais/mês do que os brancos.
Entretanto, chama-se atenção que dentre os homens e mulheres brancas, assim
como homens e mulheres negras/pardas ainda se têm a desigualdade de gênero,
pois são as mulheres negras/pardas que recebem os menores valores de rendimento
mensal. E independentemente do nível de instrução pessoas pretas/pardas recebem
rendimentos por hora trabalhadas em níveis inferiores. Já em relação ao
rendimento per capita, em 2018, a população branca recebeu 912 reais a mais que
a população de cor ou raça preta/parda.
Em termos de indicadores
educacionais, entre 2016 e 2018, conforme a pesquisa, as taxas, de forma geral,
tiveram melhorias tantos para população branca como para a preta/parda,
contudo, ao comparar ambas houve desvantagem notória dessa última em relação à
primeira. Tal é mais evidente no ensino médio e, principalmente, no ensino
superior, uma vez que os jovens entre 18 e 24 anos que frequentavam ou tinham concluído
esse último foi de 18,3% entre pretos e pardos, enquanto a proporção de brancos
foi de 36,1%, isto é, uma diferença de 17,8% entre as raças/cores. De 2016 até
2018 notou-se um incremento de 5,1% de estudantes pretos/pardos, na mesma faixa
etária citada anteriormente, no ensino superior. Ah, um salve para a implementação (mesmo que tardia) da política de
cotas nas universidades públicas! Mas em contrapartida a população branca
chegou ao patamar de 78,8% cursando este mesmo nível de estudo. Tais foram um
reflexo da taxa de ingresso em universidades e faculdades pois, em 2018, a
população branca alcançou uma inserção de 53,2%, enquanto a preta/parda foi de 35,4%,
possivelmente consequência dos que não deram continuidade aos estudos, nem se
candidataram ao ensino superior, isto por terem que trabalhar ou procurar
trabalho, que também é refletido na taxa de 61,8% desses na conclusão do ensino
médio, enquanto a população branca tem taxa de conclusão de 76,8%.
Essas disparidades
também se encontram no texto de Righetti et
al (2020), da Folha de São Paulo, sobre a população negra nos programas de pós-graduação,
que nos leva mais uma vez a refletir sobre a tamanha desigualdade vivida em
nossa sociedade, demonstrando o quanto o meio acadêmico-científico é elitista e
branco, pois conforme os autores a partir de dados da Capes apenas uma
matrícula dentre quatro é ocupada por negros nos programas do país, contando que
esta média inclui os mestrados e doutorados. E ainda pode-se afirmar que essa
baixa inserção ainda é mais devastadora para programas “elitizados” como de medicina,
engenharias, odontologia, arquitetura. E embora a taxa de inserção dos negros
tenha elevado nos últimos 10 anos em algumas universidades como a USP ainda
assim é um resultado pífio quando estamos falando de uma população que é
maioria no país.
O IBGE, ao realizar e analisar
a Pesquisa Nacional de Saúde da Escola de 2015 com alunos do 9º ano do ensino
fundamental, expõe que a violência se encontrou mais elevada e recorrente nos
alunos pretos/pardos, tanto na rede privada ou pública de ensino. E 15,4%
desses acabaram não comparecendo à escola por falta de segurança no trajeto
casa-escola ou mesmo na escola, pois mais de 50% estudavam em escolas localizadas
em áreas de risco. Sabe-se que tais condições e situações podem gerar efeitos
nocivos em curto ou logo prazo nesses indivíduos ou ao meio de suas vivências.
Cabe chamar atenção que ao
tema violência, em 2017, para cada 100mil/hab. a taxa de homicídio na população
preta/parda foi de 43,4, enquanto a população branca foi de 16,0. Quando se
remete aos dados a população mais jovem (entre 15 e 29 anos) foi a mais
atingida pois, em 2017, houve 69,9 homicídios para cada 100mil habitantes. E se
concentrou mais ainda ao tocante de pretos/pardos, já que a cada 100mil jovens desses
98,5 homicídios foram atribuídos aos pretos e pardos e 34,0 homicídios aos
jovens brancos. Mais uma vez é importante enfatizar que tais podem gerar consequências
desastrosas, acarretando em possíveis e elevados índices de doenças como
depressão, suicídio, vícios, problemas de aprendizagem, entre outros.
No dia 19/11/20 mais um assassinato
brutal, João Alberto Silveira Freitas, mais um homem negro que retiraram a vida,
sim, mais um caso doloroso de racismo na sociedade brasileira!
Aqui apontamos apenas breves
dados levantados pelo IBGE, não são falácias ou meramente questão de opinião,
são levantamentos de pesquisas de uma das mais sérias instituições do país e
mesmo assim há quem não acredite, queira compreender os fatos por números. Há
ainda os que querem negar as diferenças brutais entre a população branca e
privilegiada em relação à população negra/parda massacrada e oprimida por
séculos, desde os tempos da escravidão.
SEJAMOS
TODOS ANTIRRACISTAS!
Correio Braziliense. Homem
Negro é Espancado e Morto por Segurança e PM em Carrefour de Porto Alegre, 19
de novembro de 2020. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2020/11/4890130-homem-negro-e-espancado-e-morto-por-seguranca-e-pm-em-carrefour-de-porto-alegre.html
IBGE. Desigualdades Sociais
por Cor ou Raça no Brasil. Estudos e Pesquisas Informação Demográfica e
Socioeconômica, número 41, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101681
Righetti, S.; Estêvão, G. e Bottallo,
A. Só 1 em cada 4 matriculados em programas de
mestrado e de doutorado no Brasil é negro. Folha de São Paulo, 22 de novembro
de 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/11/so-1-em-cada-4-matriculados-em-programas-de-mestrado-e-de-doutorado-no-brasil-e-negro.shtml
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